domingo, 12 de julho de 2015

Notas sobre RELIGIÃO

Durante toda a minha vida acreditei não precisar de religião alguma. Sempre vislumbrei as diversas crenças como muletas que apoiam pessoas que não querem enfrentar seu próprio vazio existencial.
            Porque pra mim o mais importante sempre foi à conduta, a forma como tratamos o próximo e o jeito que convivemos em sociedade. Entrar em algum templo ou filosofia significava alienação, lavagem cerebral.
            Mas, analisando melhor, talvez eu estivesse bastante equivocada em alguns pontos. Há diversos benefícios em frequentar uma religião que te preencha, o problema consiste em nós mesmos: em fecharmos os olhos e pararmos de questionar, em deixar que pensem por nós, isso é a total perda da nossa individualidade e o fim da personalidade que adquirimos ao longo da nossa existência.
            A criticidade e autoanálise deve se fazer presente em todos os aspectos da vida. Portanto, uma religião que não suscite o autoconhecimento e interrogações pode ser extremamente prejudicial.
            Ensinar a pensar e a se construir pouco a pouco é primoroso. Jamais impor respostas prontas e acabadas, até porque ninguém é dono da verdade, ninguém.
            Não compreendo a separação e o abismo entre pessoas de diferentes crenças, mas entendo a necessidade de persuasão de algumas. Por se sentirem beneficiados e felizes acreditam que se o próximo também fizer parte de determinado culto irá se “salvar”, nesse caso sabemos a preocupação e boa vontade das pessoas envolvidas nesse chamamento. No entanto, pensamos e sentimos diferentes, o que é muito bom pra você talvez não seja para mim, temos nossas particularidades e necessidades próprias.
            Ocorre de imediato um isolamento entre os “salvos” e os “impuros”, caso não aceitem serem domados não poderão se relacionar com fulano ou cicrano, por incompatibilidade de crenças. Ora, se Deus é amor, e acredito realmente que seja, não haverá dessa forma problema algum em nos unirmos por um sentimento maior, ao invés de repelirmos o outro.
            É muito fácil e conveniente acreditar em um Deus justo e bom, sem levar em consideração as motivações que o tornam tão perfeito. Porque ele é justo e bom? É necessário entender e não assimilar simplesmente no automático. Fé é uma lenta construção, ninguém pode dar nem doar, muito menos comprar.
            Há conceitos diversos sobre Deus e ninguém está certo e nem errado, cada um tem um tempo e uma forma de entendê-lo. Não existem verdades absolutas e inquestionáveis, mas certamente ele não é nenhum ditador, te deixa livre para fazer suas próprias escolhas e ser quem você quiser ser, no seu próprio tempo.
            Nenhum padre, pastor ou doutrinador deve ser idealizado, são pessoas como nós, repleto de falhas e contradições. Estamos todos aqui para ajudarmos uns aos outros, independente de posição, status ou qualquer outra coisa. A aprendizagem é uma linha de mão dupla, ninguém está terminado, estamos em construção incessantemente. Ensinamos e aprendemos o tempo todo.

            Dessa forma, penso que pensar seja a solução para não se deixar alienar nem domar.. E que no nosso próprio tempo a partir de nossas escolhas estaremos mais próximo das respostas, mesmo que nunca cheguemos de fato a elas. Não precisamos concordar com tudo, mas necessitamos respeitar sempre.
Milena Macena do Espírito Santo
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6 comentários:

  1. Muito Bom, como sempre!

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  2. "Entrar em algum templo ou filosofia significava alienação, lavagem cerebral". Reveja esse preconceito. Desse modo soou tão finalista ou generalista que não dá espaço para a subjetividade de cada um que crê ou segue algo. Crer em algo ou entrar num templo não anula a nossa individualidade. O texto está muito bom!

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    1. Percebe que a frase está no passado?, esse preconceito já foi revisto por mim.
      Grata

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  3. Talvez não tenha expressado bem, me refiro justamente aos extremos religiosos que sabotam a nossa capacidade de questionar e de nos proporcionar o autoconhecimento. aí sim...anula a nossa subjetividade.

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  4. Falo das religiões (criação humana) de uma forma bem superficial, nunca estudei a fundo, também nunca me dispertou paixão. Mas, ao mesmo tempo eu sempre fui um homem apaixonado por caridade, por amor, por palavras sinceras e de apoio, por todos esse comportamento humano que nos edifica e nos nutri internamente, por maior que seja a necessidade do meu semelhante, quando lhe estendo a mão, a sensação é que eu sou o maior beneficiado, palavras simplesmente não explicam o sentimento. Entrei numa igreja pela primeira vez quando ainda criança, no momento, não compreendia a razão daquelas pessoas estarem ali com tanta satisfação, e hoje, já adulto e dono de minhas convicções e idéias, continuo sem compreender, me parece um ombro de apoio para os nossos medos, nossas fraquezas e nossas dúvidas, onde, muitas vezes, temos receio de conversar com alguém que nos julgar sem a devida capacidade de compreensão, sendo assim, podendo funcionar como já foi dito, um ombro amigo, sei que posso está equivocado, pois aqui não é minha verdade, ela não me pertence, é apenas meu ponto de vista. No meu conceito, religião é uma filosofia de vida, como procedemos e realizamos a empatia diante do nosso semelhante, independe da existência do retorno, seja ele qual for. Deus é amor incondicional e sem limites! Jamais vamos compreender seus planos, por conta da nossa limitação. Os tolos acreditam que muitos sabem de Deus, até distorções suas palavras e usam seu nome em vão, em busca de liderança, status e contas bancárias, mas um dia todos terão que responder por toda a sua ignorância totalmente lúcida. Que ele me conceda visão para tudo aquilo que hoje eu não enxergo.

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    1. Temos religião pq ainda necessitamos dela. O problema é que a moldamos com nossos vícios e tudo se transforma em segregação.
      Se soubéssemos usá-la com sabedoria tudo seria bem mais tranquilo.
      Pra mim Deus é um só e ele não liga se vc tem ou não alguma crença. Basta amar e não praticar o mal.

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