terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Presidente Negro, Presidenta Mulher.

Lembro que há anos atrás quando estávamos prestes às eleições, a universidade pipocava debates sobre uma mulher assumir a presidência. No meu curso, especialmente, eu parecia ser a única com opinião diferente sobre essa questão de gênero.
            Pra falar a verdade eu evitava certas conversas porque começava o murmurinho e a chuva de críticas contra o meu posicionamento. De antemão aviso: não é um texto crítico ao governo Dilma, mas sim no que se refere à intolerância a ideias contrárias.
            Já era noite quando aguardava minha aula começar, estava sentada na pracinha entre as didáticas 3 e 4. No banco de cimento, observava um pessoal falar em espanhol, achei graça e me intrometi. Começamos a conversar, muitas gargalhadas e muito portunhol, se alguém passasse e visse podia jurar que éramos amigos de infância. Imagina, meros desconhecidos quebrando o tédio com uma boa conversa.
            De repente a palavra política foi citada. Um rapaz era militante e gostaria de saber em quem eu iria votar, respondi:
            - Ainda estou confusa. Tucano é privatização, não quero. Mas Dilma também não, pra falar a verdade eu nem a conhecia, é praticamente uma reeleição de Lula!
            E então começou a discussão. Ele de forma alterada “argumentou”:
            - Minha filha você é burra é?! Você tem que votar na Dilma, ela é mulher, quer sua classe no poder não é?!
            Quase não acreditei no que ouvi: burra? Foi isso mesmo?
            - Como é?! Burra?! Porque não penso como você eu sou burra?!, seu radical. Eu votaria facilmente numa mulher que eu admirasse, teria orgulho de ser representada enquanto mulher, enquanto pessoa. Mas mal a conheço e não quero votar nela! E preciso que me respeite por isso!
            - Burra! Mulher é muito burra mesmo! Deveria votar, minha filha ela é mulher!
            Vocês podem imaginar que essa conversa rendeu e muito. Mas, de meros desconhecidos nos tonamos amigos, com direito a um pedido de desculpa, da parte dele...é claro! Kkkkk
            O que quero enfatizar é que não é pelo fato de ser uma mulher na presidência, ou um homem negro no poder de uma grande potência mundial é que preciso votar neles por possuírem essas características. Para mim, enaltecer o gênero e uma cor é uma forma de diferenciá-los e torná-los especiais ou não por isso.
            É claro que Dilma repercutiu de tal forma que o número de mulheres em cargo de grande responsabilidade e poder aumentaram, não nego.
            Mas, se pararmos para pensar, o que uma cor diz sobre o caráter de um homem? Porque devemos enaltecer o gênero feminino para mostrar que somos capazes?
            Só demonstra o quanto ainda somos preconceituosos.
            Mulheres são capazes sim! E não sinto necessidade em fortalecer isso votando em alguém que não admiro, pelo simples fatos de sermos mulheres.
            Homens negros? É espantoso que em pleno século XXI ressaltemos a cor. Embora a dívida que nossos antepassados deixaram seja eterna. É tão surpreendente imaginar que ainda exista racismo. Afinal, o que é uma cor? Senão a mais bela forma de diversificação dos seres.
            Somos todos seres humanos.
Milena Macena do Espírito Santo.
 

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