domingo, 6 de abril de 2014

Cartas

Se você nasceu na era digital dificilmente mantém o hábito de enviar cartas. Porque o e-mail e as mensagens no celular já são suficientes, além da praticidade que representa.
            Mas nada se compara ao encanto das cartas, especialmente escritas a mão. Às vezes perfumadas, outras desarrumadas.
            As cartas representam um pouquinho de sentimento, misturado a cuidado e atenção. Você tem o trabalho de escrever e dedicar um pouquinho do seu tempo para levar noticias, expor sentimentos ou palavras que não conseguem falar.
            Durante a minha adolescência minha grande amiga de infância foi morar na Bahia, outra em Brasília, trocávamos cartas, guardo todas até hoje. Sempre ficava na porta: - Seu Ananias hoje tem carta?!, perguntava ao carteiro.
            - Hoje não Milena, mas amanhã quem sabe!
            E sempre chegavam as cartas. Até que depois de certo tempo não mais apareceram, porque as redes sociais bastavam. Para mim não, ao mesmo tempo em que aproximou, distanciou ainda mais. As respostas eram esperadas, as novidades aguardadas, mas com a internet isso banalizou e distanciou ainda mais a amizade. Quase não nos falamos mais.
            As fotos já dizem tudo, não necessita de legendas ou comentários. As conversas não são mais necessárias porque tudo já está visualizado. Sabemos se está relativamente bem ou não a partir das redes sociais, sem que para isso necessite uma conversa. Aparentemente estamos bem, e isso é o que importa.
            Muita coisa está banalizada, então quando passamos a manter algo não mais utilizado com frequência pelas pessoas é extremamente diferente e visto como esquisito. As cartas me inspiram encantamento e afeto, dedicar seu tempo a escrever cuidadosamente para alguém é sinal de carinho. Afinal, o tempo se tornou escasso hoje em dia, ninguém quer perder, e dedicá-lo a alguém é sinal de importância.

            Guardo minhas cartinhas com muito zelo, às vezes me pego relembrando algumas e me divertindo. Frequentemente escrevo e envio bilhetinhos de aniversários. Faço questão de manter certos hábitos com carinho.
Milena M. E. Santo


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