sexta-feira, 16 de maio de 2014

Voando para Curitiba

Mal pude conter minha ansiedade para mais uma viagem, desta vez para Curitiba-Paraná. Preparei cuidadosamente meu roteiro com todos os pontos que pretendia explorar.
            Para mim o melhor da viagem começa nos preparativos, na pesquisa dos lugares, nas vestimentas e enfim, dentro do avião. É que eu tenho certa fascinação por avião. Sempre pretendo comprar a passagem em que o assento seja na janela, é quase um pré-requisito.
            Se já sou moleca, imagina dentro do avião. Quando está prestes a decolar a vontade é de levantar os braços como se faz na montanha russa. Mas não faço, claro. Grito internamente “uhuu”. Não desgrudo da janela até não poder visualizar mais a cidade.
            Lá de cima tudo é tão minúsculo e grandioso ao mesmo tempo. Percebemos que não somos nada na imensidão do universo, e ao mesmo tempo tudo!. Precisa de muita inteligência para construir um “bicho” desse, tão veloz e incrível. Viva a Santos Dumont.
            As nuvens são tão branquinhas e perfeitas, parecem algodões ou grandes icebergs. Tudo é grandioso e imponente. Vejo uma grande faixa de terra com sinuosidades de algum rio. Em seguida avisto o mar, o gigante, percebo um corte horizontal dando margem as praias.
            Próximo a aterrissar, percebo um carrinho solitário numa estrada de terra batida. E de novo “uhuuu!” chegamos! É Deus no comando. Diante de tanta belezura não tem como não pensar que algum ser orquestra tudo isso.
             Eu e minha mãe chegamos por volta das 22h, depois de muita confusão, troca de portões e atraso no aeroporto de Brasília (escala). Curitiba estava gelada, especialmente para nós nordestinas, acostumadas com o calorão.
            No dia seguinte, com 8 graus, estava uma pedra de gelo, mesmo vestida conforme a temperatura. Nunca senti tanto frio em toda a minha vida. Em gramado já passei por 9 graus, mas a sensação térmica da capital paranaense estava de gelar o esqueleto. Minha mãe tratou logo de pegar uma gripe e ainda assim arranjou disposição para realizar os passeios, mesmo em dias de febre. Essa é minha mãe!
            O recepcionista do hotel reconheceu logo meu sotaque nordestino e me senti acolhida pelo funcionário baiano. Conversamos sobre a nossa região e logo juntamos mais gente para “tricotar” no hotel.
            Uma funcionária curitibana, muito solícita e cordial nos deu ótimas dicas de passeios e nos indicou o ônibus para que pudéssemos chegar ao nosso destino escolhido. Na praça, de longe, vejo o ônibus parar no terminal em tubos, corro e comento com a moça na catraca do terminal: - Que pena, não acredito que perdi o ônibus!. Ela olhou para mim de forma esquisita e disse que não iria demorar a passar outro (conversa fiada, pensei). Em menos de 3 minutos...olha o busú!. Percebi que fazem fila para entrar.
            Outro dia estava no parque e avistei o ônibus passar do outro lado da avenida, corri, quando percebi que não adiantava recuei. Um homem me abordou:
            - Moça, está tudo bem com você? Aconteceu alguma coisa?
            - Sim...[?]
            - É que eu vi você correndo, achei que tivesse acontecido alguma coisa.
            - Não! É que eu queria pegar o ônibus!
            Ele olha pra mim com um olhar de interrogação e eu retribuo com o mesmo. Depois é que percebi que na cidade ninguém precisa correr para pegar o ônibus. Exceto a “jardineira”, ônibus turístico que passa a cada 30 minutos. Os outros em 3 minutos você embarca.
            Tenho que reconhecer, o sistema de transporte curitibano é realmente muito bom. Possui acessibilidade: rampas, sistema áudio visual. Por “falar” nisso, não é permitido ouvir música no ônibus, somente com fones de ouvido, justamente para não atrapalhar o sistema áudio visual.
            Na rua das flores, comércio, observei um rapaz de terno, óculos escuros, caminhando muito rápido com sua bengala através do piso tátil. Pensei: isso que é independência!
            Por outro lado, a cidade é repleta de pichações, nem os monumentos históricos escapam. Os rabiscos estão em todos os lugares, até nos prédios mais altos.
            Curitiba é uma cidade extremamente arborizada e cheia de parques, mas poucos são os restaurantes nos pontos turísticos. Comida mesmo só em Santa Felicidade, um bairro italiano muito aconchegante.
            Me deparei com o jardim botânico sem cor, estava lindo, mas menos maravilhoso sem as flores, que segundo um funcionário retiraram para plantar apenas amarelas para a copa, não deu tempo de ver florescer. A preparação para a copa barrou nossa entrada em alguns lugares. Primeiro: Opera de Arame, que já estava em manutenção há algum tempo, mas justo no dia em que fomos: gritaria, policiais, barulhos de bombas etc. Estavam em simulação para a copa, ficamos ainda mais restritas. Segundo: parque Tanguá, que apesar de ser aberto havia uma cascata em reforma, assim como a ponte também. Exatamente, cismei que queria chegar do outro lado (lá embaixo do parque), desci uma tremenda ladeira. Nenhum pé de gente, deserto. Mas minha vontade era grande que nem a ponte interditada me barrou, fui pelo riacho mesmo. Por que pelo túnel não foi possível também.
            O clima frio deve influenciar muito as pessoas, porque muitas delas não gostavam de transmitir informações, sorriem menos e falam menos. Se você não se policiar também passa a sorrir e conversar cada vez menos. No primeiro dia que fui pegar a jardineira, abaixo do hotel tem uma lanchonete super famosa, era cedo, antes das 9h, vi uma moça na porta trabalhando e perguntei:
            - Bom dia! Moça você sabe informar se esse ponto aqui na frente passa o ônibus jardineira?
            Silêncio. Silêncio. Silêncio
            Olhar bravo
            - Moça, você sabe me dizer se por aqui passa o ônibus jardineira?
            Silêncio. Será que ela é surda? (juro, pensei), vou tentar a língua de sinais. Então ela responde: - Sei não, e vira o rosto.
            Oh céus! Mas o que eu fiz?
            Nas lojas, o tratamento não é muito caloroso também não, exceto nas barraquinhas de artesanato. Especialmente na Feira do Largo da Ordem, ótimas barracas e pessoas super legais e descoladas. Artesanato de primeira!. Super recomendo. Quem passar por Curitiba não pode perder, funciona aos domingos.
            Ótimo também é o passeio de Trem “Serra do Mar”, incrível!! Os irmãos Rebouças construíram todo o projeto ferroviário. Os irmãos Rebouças foram escravos recém libertos na época da princesa Isabel, que segundo a guia, era amiga dos Rebouças. Foram contra todas as opiniões de vários engenheiros do Brasil e de outros países também, e naquela época, com a precária tecnologia que tinham, realizaram esse imponente projeto. No início do passeio é até um pouco entediante, até passar pelo primeiro túnel e...tharan! escuridão!, depois começam as paisagens deslumbrantes, de tirar o fôlego. Vale a pena.
            O trem chega a Cidade de Morretes, que é uma graça, charmosa e acolhedora. Tem o prato típico “barreado”, uma espécie de lombo desfiado com molho, farinha e banana. Depois de Morretes, passamos por Antonina, uma cidade história, que nas portas de todas as casas existe um azulejo com um pequeno trecho de alguma música. Então um determinado dia, músicos vão de casa em casa cantar a música que está escrita nos azulejos. Uma graça! Fazem isso até hoje! E toda a cidade é preservada.
            Curitiba é uma cidade que encanta por seus parques e árvores. Além do seu sistema de transporte. E Emprego, tem muito, vagas para vendedores de lojas, recepcionistas em restaurantes, sempre tem uma plaquinha. Percebi a cidade com muitos senhores, e jovens vindos de fora. Não sei se foram os lugares que circulei que coincidiu, mas essa foi minha impressão. Quase concluí meu roteirinho, restando apenas conhecer o bairro batel.
 Milena Macena






            

Um comentário: