Minha infância foi tão boa, tão boa! Que
ela dura até hoje!
Durante
algum tempo fui a única neta mulher da minha avó Joana. Então, eu reinava em
absoluto entre a molecada.
Assim: uma princesinha
Tá... tudo bem, talvez eu tenha exagerado um pouco
na narrativa. A verdade é que eu não reinava coisa nenhuma. Era expulsa de
todas as brincadeiras e quando conseguia convencê-los da minha importância nos
jogos eu era sempre, sempre a “café com leite”. Minha moral estava sempre em
baixa.
Mas lá estava eu no meio, ousada
e intrometida. Vivia pendurada na goiabeira ou catando Jamelão com a língua
toda roxa.
Na rua brincava o dia inteiro de queimado, pique
esconde e tantas outras brincadeiras com minhas amigas. Enquanto isso meus
primos moleques viviam vidrados no game, era uma gritaria insuportável.
Mais ou menos assim: só que bem pior e e acrescente uns 12 moleques
Quando viajávamos de férias sem minhas
amigas, lá estava eu mendigando a atenção da primarada. Ouvia sempre um coral
em tom muito forte:
-
MENINAS NÃO ENTRAM, CAIA FORA!
Nem adiantava eu fazer essa cara! Eles tinham corações de Pedra!
Mas eu era persistente e nunca desistia.
Foi assim que consegui que me aceitassem para brincar de pega-pega, mas antes
tinha que passar por uma importante prova. Fiquei como “bestinha”, claro, até provar
a minha eficiência. Foi quando eles me deram um “Olé” e acabei caindo em cima
do cacto. Minha mãe passou à tarde inteirinha tirando os espinhos com pinça do
meu pé. Mal conseguia pisar.
Eles:
Eu:
Então usei todo o meu poder de
observação e percebi o esconderijo perfeito para o pique esconde. Só precisava
da ajuda de alguém para levantar o sofá e me infiltrar lá dentro.
No
dia seguinte fui novamente aceita na brincadeira, pedi ajuda para levantar o
sofá e ficar lá embaixo escondida. Meu plano era incrível, sairia vencedora e
mostraria todo o charme e esperteza de uma garota.
Só que meu irmão também se aproveitou e
se escondeu comigo, tendo a ajuda de seu comparsa (meu primo) para ser
retirado. Mas eu precisava ficar até o final e gritar:
-
1, 2, 3 SALVE TODOS!
Só
com essa façanha eu conseguiria o respeito de todos.
Percebi que minha hora estava próxima,
tão próxima que eles já haviam começado outra rodada sem mim. O sofá precisava
ser levantado para eu sair, estava presa.
-
Alguém me tire daqui!!!
Fui retirada, porque meu esconderijo era
tão bom que os moleques sem vergonha dos meus primos se aproveitaram para se
esconder. Foi quando levantaram o sofá em conjunto para entrarem, só assim eu
saí, humilhada, feito um cachorrinho sem dono.
Logo perdoei porque eles eram meus ídolos. Vejam
só vocês na coragem deles no sítio. Foram caçar lobisomem. Não era lagartixa
não, era lobisomem mesmo!
A noite havia chegado e eles estavam
munidos de lanterna e uma espécie de lampião caseiro (lata de leite em pó
cortada na fundo com uma vela no meio). Uau, Que Coragem!
E
lá foram eles mata adentro!. Mal podia me aguentar de tanta ansiedade, queria
ver o terrível monstro capturado.
Peraí!
São eles de volta!, não consigo enxergar o bicho!
-
Gente, vocês não pegaram ele?
O
capitão da expedição responde:
-
Ele se assustou com a nossa presença e saiu correndo
Puxa! Eles eram mesmo poderosos, que presença
marcante, pensei
No dia seguinte, meu primo mais velho
encarnou tanto esse lance de ser capitão que não pensou duas vezes e amarrou o
coitado do Leo e colocou uma goiaba na boca do pobre, jogava água gelada e
gritava pra ele confessar o crime, sob tortura. Criança tem mesmo muita
imaginação
Então
eu ganhei uma prima fofuxa e linda, mas tão linda, mas tão fofa. Que assim que
peguei com meu bracinho de criança ela gofou na minha roupa. Ah! Não! Eca!...
Acho melhor eu ir atrás da molecada
brincar de bola. Minha recepção não poderia ter sido mais calorosa. Uma bolada
gigantesca na minhas costas, quase fico sem ar. Corro gritando entre lágrimas.
Foi assim que aprendi a ser orgulhosa. Nunca
mais brinquei com os moleques, me limitava apenas a trocar figurinhas de time
de futebol e do álbum de chocolate planetário.
Até
vendi minha bicicleta a meu irmão por R$00,20, só por que queria comprar o
chocolate da tartaruga naquele exato instante. Mas logo em seguida me arrependi
amargamente. Ele levou muito a sério essa parada, e foi apenas coisa de momento.
Mas então eu cresci e me tornei
conselheira amorosa de quase todos eles. Eles vinham até mim. Dá pra acreditar?!
- Hoje já tenho um conselho agendado as
16h, pode ser amanhã?
-
Não!! Estou muito necessitado! Tem que ser agora!!!
-
Olha não tem como, estou muito atarefada, tem mil coisas a fazer, simulado na
escola, talvez se você chorar um pouquinho!... tá, venha seu besta! kkkkk
Nesse período tive a sorte de conhecer e desfrutar da companhia maravilhosa de uma nova prima
E então de cachorrinha abandonada passei
a prima confidente e depois fui promovida a madrinha de casamento.
Fui muito bem criada com meus primos
moleques, crescemos juntos e por isso são como irmãos, entre arranhões e puxões
de cabelos sobrevivemos kkk. Hoje, um deles me deu uma notícia maravilhosa que
serei titia. Não sei se será Miguel ou Lavínia, mas já amo com todo meu coração
esse serzinho que está em formação. Tenho certeza que será criado com muito amor,
pois a mãe é maravilhosa e o pai também, e essa tia aqui já baba!
Tão maravilhoso ter uma família que se ama e vive unida!!
ResponderExcluire que Miguel ou Lavínia venha com muita saúde!!!!! Amém!!!!!
Amo muito mesmo!!! =******
ExcluirAdoro suas histórias! Sempre fico esperando a próxima! Kkk são ótimas e divertidas!bjo mileninha
ResponderExcluirApesar de ter sido criada com os moleques vc é uma princesa sim mili! Bjsss
ResponderExcluirMilena!
ResponderExcluirLer esta crônica, saber que sou um dos personagens da narrativa, poder recordar da nossa infância tão pura, inocente, sadia (muito diferente do que podemos observar nos dias de hoje), tudo isso me levou a um mergulho num profundo sentimento... saudade!
Neste instante, veio à mente a letra de uma linda canção, que peço sua licença para aqui reproduzir a letra:
"Estórias que não contam mais
Quando o barco perde a praia
Quando tudo diz adeus
O céu desmaia, a luz do dia não raia
Pois se apaga a luz do céu
A dor se espraia feito pé de samambaia
E antes que a noite caia
Apaga a lua
E a saudade então flutua
Como um bólido luzente
Dentro dela a gente vai
Estórias que não voltam mais
Quando os lenços cortam os laços
Num definitivo adeus
Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços
Nem um traço nem um véu
Apenas o silêncio e o som de Deus..."
VILA DO ADEUS - Roberto Mendes, Jorge Portugal
(Extraído do álbum A FORÇA QUE NUNCA SECA, Maria Bethânia, Sony BMG - 1999)
Ow leo que lindo! você sempre um lord! nunquinha me destratou nem me deu bolada nas costas kkkk!
ResponderExcluirsempre poético!
obrigada pelas palavras!
saudade dos nossos tempos de criança!
um abraço bem forte!
=*