segunda-feira, 16 de junho de 2014

Moleques

               Minha infância foi tão boa, tão boa! Que ela dura até hoje!

            Durante algum tempo fui a única neta mulher da minha avó Joana. Então, eu reinava em absoluto entre a molecada.
Assim: uma princesinha
                   
  
          Tá... tudo bem, talvez eu tenha exagerado um pouco na narrativa. A verdade é que eu não reinava coisa nenhuma. Era expulsa de todas as brincadeiras e quando conseguia convencê-los da minha importância nos jogos eu era sempre, sempre a “café com leite”. Minha moral estava sempre em baixa.

       Mas lá estava eu no meio, ousada e intrometida. Vivia pendurada na goiabeira ou catando Jamelão com a língua toda roxa.

       Na rua brincava o dia inteiro de queimado, pique esconde e tantas outras brincadeiras com minhas amigas. Enquanto isso meus primos moleques viviam vidrados no game, era uma gritaria insuportável.

Mais ou menos assim: só que bem pior e e acrescente uns 12 moleques
                                       

       Quando viajávamos de férias sem minhas amigas, lá estava eu mendigando a atenção da primarada. Ouvia sempre um coral em tom muito forte:
            - MENINAS NÃO ENTRAM, CAIA FORA!
Nem adiantava eu fazer essa cara! Eles tinham corações de Pedra!

       Mas eu era persistente e nunca desistia. Foi assim que consegui que me aceitassem para brincar de pega-pega, mas antes tinha que passar por uma importante prova. Fiquei como “bestinha”, claro, até provar a minha eficiência. Foi quando eles me deram um “Olé” e acabei caindo em cima do cacto. Minha mãe passou à tarde inteirinha tirando os espinhos com pinça do meu pé. Mal conseguia pisar.


Eles:


Eu:

          Então usei todo o meu poder de observação e percebi o esconderijo perfeito para o pique esconde. Só precisava da ajuda de alguém para levantar o sofá e me infiltrar lá dentro.

            No dia seguinte fui novamente aceita na brincadeira, pedi ajuda para levantar o sofá e ficar lá embaixo escondida. Meu plano era incrível, sairia vencedora e mostraria todo o charme e esperteza de uma garota.
           Só que meu irmão também se aproveitou e se escondeu comigo, tendo a ajuda de seu comparsa (meu primo) para ser retirado. Mas eu precisava ficar até o final e gritar:
                  - 1, 2, 3 SALVE TODOS!

               Só com essa façanha eu conseguiria o respeito de todos.

           Percebi que minha hora estava próxima, tão próxima que eles já haviam começado outra rodada sem mim. O sofá precisava ser levantado para eu sair, estava presa.
            - Alguém me tire daqui!!!



        Fui retirada, porque meu esconderijo era tão bom que os moleques sem vergonha dos meus primos se aproveitaram para se esconder. Foi quando levantaram o sofá em conjunto para entrarem, só assim eu saí, humilhada, feito um cachorrinho sem dono.
        Logo perdoei porque eles eram meus ídolos. Vejam só vocês na coragem deles no sítio. Foram caçar lobisomem. Não era lagartixa não, era lobisomem mesmo!
                                    

A noite havia chegado e eles estavam munidos de lanterna e uma espécie de lampião caseiro (lata de leite em pó cortada na fundo com uma vela no meio). Uau, Que Coragem!
            E lá foram eles mata adentro!. Mal podia me aguentar de tanta ansiedade, queria ver o terrível monstro capturado.
            Peraí! São eles de volta!, não consigo enxergar o bicho!
            - Gente, vocês não pegaram ele?
            O capitão da expedição responde:
            - Ele se assustou com a nossa presença e saiu correndo
Puxa! Eles eram mesmo poderosos, que presença marcante, pensei
         No dia seguinte, meu primo mais velho encarnou tanto esse lance de ser capitão que não pensou duas vezes e amarrou o coitado do Leo e colocou uma goiaba na boca do pobre, jogava água gelada e gritava pra ele confessar o crime, sob tortura. Criança tem mesmo muita imaginação
            Então eu ganhei uma prima fofuxa e linda, mas tão linda, mas tão fofa. Que assim que peguei com meu bracinho de criança ela gofou na minha roupa. Ah! Não! Eca!...
              



      Acho melhor eu ir atrás da molecada brincar de bola. Minha recepção não poderia ter sido mais calorosa. Uma bolada gigantesca na minhas costas, quase fico sem ar. Corro gritando entre lágrimas.

                                    

         Foi assim que aprendi a ser orgulhosa. Nunca mais brinquei com os moleques, me limitava apenas a trocar figurinhas de time de futebol e do álbum de chocolate planetário.
         Até vendi minha bicicleta a meu irmão por R$00,20, só por que queria comprar o chocolate da tartaruga naquele exato instante. Mas logo em seguida me arrependi amargamente. Ele levou muito a sério essa parada, e foi apenas coisa de momento.
         Mas então eu cresci e me tornei conselheira amorosa de quase todos eles. Eles vinham até mim. Dá pra acreditar?!

                 - Hoje já tenho um conselho agendado as 16h, pode ser amanhã?
                 - Não!! Estou muito necessitado! Tem que ser agora!!!
               - Olha não tem como, estou muito atarefada, tem mil coisas a fazer, simulado na escola, talvez se você chorar um pouquinho!... tá, venha seu besta! kkkkk
              Nesse período tive a sorte de conhecer e desfrutar da companhia maravilhosa de uma nova prima
          E então de cachorrinha abandonada passei a prima confidente e depois fui promovida a madrinha de casamento.


Fui muito bem criada com meus primos moleques, crescemos juntos e por isso são como irmãos, entre arranhões e puxões de cabelos sobrevivemos kkk. Hoje, um deles me deu uma notícia maravilhosa que serei titia. Não sei se será Miguel ou Lavínia, mas já amo com todo meu coração esse serzinho que está em formação. Tenho certeza que será criado com muito amor, pois a mãe é maravilhosa e o pai também, e essa tia aqui já baba!

6 comentários:

  1. Tão maravilhoso ter uma família que se ama e vive unida!!
    e que Miguel ou Lavínia venha com muita saúde!!!!! Amém!!!!!

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  2. Adoro suas histórias! Sempre fico esperando a próxima! Kkk são ótimas e divertidas!bjo mileninha

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  3. Apesar de ter sido criada com os moleques vc é uma princesa sim mili! Bjsss

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  4. Milena!
    Ler esta crônica, saber que sou um dos personagens da narrativa, poder recordar da nossa infância tão pura, inocente, sadia (muito diferente do que podemos observar nos dias de hoje), tudo isso me levou a um mergulho num profundo sentimento... saudade!
    Neste instante, veio à mente a letra de uma linda canção, que peço sua licença para aqui reproduzir a letra:

    "Estórias que não contam mais
    Quando o barco perde a praia
    Quando tudo diz adeus
    O céu desmaia, a luz do dia não raia
    Pois se apaga a luz do céu
    A dor se espraia feito pé de samambaia
    E antes que a noite caia
    Apaga a lua
    E a saudade então flutua
    Como um bólido luzente
    Dentro dela a gente vai
    Estórias que não voltam mais
    Quando os lenços cortam os laços
    Num definitivo adeus
    Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços
    Nem um traço nem um véu
    Apenas o silêncio e o som de Deus..."

    VILA DO ADEUS - Roberto Mendes, Jorge Portugal
    (Extraído do álbum A FORÇA QUE NUNCA SECA, Maria Bethânia, Sony BMG - 1999)

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  5. Ow leo que lindo! você sempre um lord! nunquinha me destratou nem me deu bolada nas costas kkkk!
    sempre poético!
    obrigada pelas palavras!
    saudade dos nossos tempos de criança!
    um abraço bem forte!
    =*

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